Eudoro de Sousa
1911-1987

TÁBUA BIOGRÁFICA

1911 - Nasce em Lisboa, onde realiza seus estudos superiores na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, especializando-se em Filologia Clássica e História Antiga na Universidade de Heidelberg, na Alemanha. Desenvolve uma série de atividades docentes e de pesquisa em Portugal, França e Alemanha.
1951 - Tradução direta do grego da Poética de Aristóteles, com introdução e índices, publicada em Portugal. Em 1966, no Brasil, revisa e reedita a tradução, com comentário e apêndices.
1953 - Chega a São Paulo, onde se integra ao "Grupo de São Paulo", intelectuais que vão se reunir em torno da revista Diálogo e de Instituto Brasileiro de Filosofia. Exerce ainda atividades docentes na Universidade de São Paulo, na Pontifícia Universidade Católica, no Instituto Brasileiro de Filosofia e na Faculdade de Filosofia de Campinas.
1955 - Muda-se para Santa Catarina, onde é um dos fundadores da Faculdade de Filosofia do estado.
1962 - Transfere-se para Brasília, tornando-se um dos fundadores da Universidade da nova capital brasileira, a UnB. Leciona Língua e Literatura Clássica, História Antiga, Filosofia Antiga e Arquelogia Clássica, em cursos de graduação e pós-graduação.
1965 - Funda o Centro de Estudos Clássicos da UnB.
1973 - Dionísio em Creta e outros ensaios.
1974 - Tradução do grego de As Bacantes de Eurípedes, com introdução e comentários.
1975 - Horizonte e Complementariedade: Ensaio sobre a Relação entre Mito e Metafísica, nos Primeiros Filósofos Gregos.
1978 - Filosofia Grega.
1980 - Mitologia.
1987 - Falece em setembro, em Brasília.



   [...]
   A arte é símbolo e como símbolo deve ser interpretada. Mas, que é interpretação? No sentido corrente, interpretar é exprimir, de certo modo, o mesmo que, de outro modo, ficou expresso. Se tal é o sentido de "interpretar", como aplicá-lo à poesia? Será possível recitar por outras palavras o mesmo conteúdo da mensagem poética? Ninguém ousará afirmá-lo. Nêste caso, "interpretar" tem outro sentido, que é o de "esclarecer", embora, na prática interpretativa, o "esclarecimento" consista em traduzir a linguagem poética em prosaico discurso.
   Mas não há outro meio, outra mediação. E o processo tanto vale, ou tão pouco vale, para a poesia, como para qualquer outra das formas de arte. Por força da própria índole da linguagem racional, da própria estrutura do pensamento lógico-discursivo, o intérprete sempre terá de alegorizar, isto é, dizer sucessivamente outras coisas que todas são, ou melhor, tendem a ser, o que efetivamente, simbolicamente, já veio a ser a obra de arte.
   [...]

EUDORO DE SOUSA, Arte e Escatologia, 1961.



   [...]
   Facilitar, tanto quanto possível, a directa reflexão sobre o original grego da Poética - eis a obra que quiséramos realizar. A obscuridade da versão mais próxima do grego autêntico e a distância deste à versão mais clara hão-de assinalar por vezes a diferença do trabalho e a falência do esforço. Mas, quem se proponha vencer esta distância e dissipar aquela obscuridade, bem avaliará a grandeza dos obstáculos que se nos depararam num caminho tanto tempo percorrido embora tão curto fosse.
  Vertido o tratado de Aristóteles no idioma pátrio, dir-se-ia, pois, que cumprida estava a tarefa de reatar, pelo menos neste ponto, o fio da tradição clássica, em Portugal entrecortado pelas inumeráveis instâncias de uma cultura demasiadamente pragmatista.
   E, na realidade, bom ou mau que seja o resultado obtido, a segunda intenção que nos moveu foi esta: que a Arte Poética, outrora lida e relida entre nós, no texto grego original e nas famosas paráfrases latinas e italianas do Renascimento, como códice da mais perfeita técnica da epopéia e da tragédia, voltasse agora a ser lida e relida, em texto português, como a grande obra de ciência e de erudição que na verdade é.
   [...]

EUDORO DE SOUSA, Prefácio à Poética de Aristóteles.



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