Carlos Maria de Araújo
1921-1962


Pequeno Bilhete de Exílio

Se tua noite fôsse a minha noite
e meu fôsse o teu dia
se teu caminho fôsse o meu caminho
e tua casa a minha
se teu pão e teu sal fôssem os meus
e teu fôsse o meu vinho
não choraria as lágrimas que choro
e a saudade não me queimaria.
Quando a tua vida começa
meu amigo
eu morro a minha morte, cada dia.

C. M. ARAÚJO



TÁBUA BIOGRÁFICA

1921 - Nasce em Lisboa, em 9 de abril.
1949 - Sai de Portugal para tratar-se de problemas de saúde na Suíça, onde vive por algum tempo.
1952 - Versos, pequena coleção de textos publicada em Zurique.
1953 - Prepara o volume de poemas Degraus, que não chega a ser publicado. Após uma estadia na Inglaterra, transfere-se para São Paulo, onde vive do jornalismo de Imprensa e de Rádio.
1954 - Inicia a sua colaboração no O Estado de São Paulo, escrevendo sobre diversas manifestações artísticas, além de assinar, por longos anos, uma crônica satírica, "Aos Domingos". Também colabora dispersamente em vários jornais brasileiros e publicações britânicas, norte-americanas e francesas.
1960 - Ofício de Trevas, poemas com ilustrações de Clóvis Graciano.
1962 - Nove Poemas, com capa e desenhos de Acácio Assunção. Falece, na queda do avião que o levaria à Inglaterra, nas águas da Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro, em 20 de agosto.


   Carlos Maria de Araújo segundo Jorge de Sena

   [...]
   A sua obra muito breve é por certo das mais notáveis da poesia portuguesa que o desconhece ainda [...]; e pode considerar-se representada pelos dois livros que publicou pouco antes de morrer. Poesia extremamente despojada e densa, de uma intensa severidade formal e de vigorosa emoção contida numa expressão lapidar, é bem a de um oficiante das trevas, dessas trevas que tão terrivelmente cobrem a vida e o mundo. Nos seus ritmos curtos e sincopados, sob os quais todavia flui oculta uma simplicidade quase sentimental, esta poesia significa, como poucas das recentes, uma fulgurante definição do exílio português, no que ele tem de amargo e de frustrado, como no que, nele, resiste a tudo e mesmo ao medo que o verso tenha de sê-lo na boca do poeta, qual este disse num dos seus mais belos poemas.

JORGE DE SENA



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