Biblioteca do IEL tem hoje um notável acervo constituído em sua maior parte por doações, além de compras feitas por indicações de professores e por buscas de profissionais bibliotecários. Assim, apesar de não ser homogêneo, o acervo contempla várias coleções de assuntos específicos dos campos de estudo do Instituto, cumprindo com seu papel de difusor do conhecimento. Entre essas coleções, julgamos conveniente destacar obras que talvez nos manuais de biblioteconomia não sejam rotuladas de “raras” mas que, dada a precariedade dos demais acervos do país, são de fato raras em bibliotecas brasileiras. É o caso dos livros dos séculos XVII e XVIII que, impressos em sua totalidade em Portugal ou no resto da Europa, por interdição de se haver imprensa no Brasil até 1808, encontram-se praticamente desaparecidos dos acervos nacionais dada a incúria dos responsáveis. Muitos deles, embora constando em catálogos de bibliotecas, encontram-se em tão péssimo estado que sua consulta por parte dos estudiosos é impossível (exemplo vergonhoso é o da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro). Foi com o intuito de dar alguma visibilidade a esse setor de obras raras do acervo da Biblioteca do IEL que promovemos esta exposição. Esperamos sensibilizar a comunidade para que, pelo menos em nossas dependências, livros como esses não sejam votados ao descaso – seja de estudos seja de conservação, uma vez que ambos os fatores se conjugam.
    Selecionamos para esta ocasião algumas obras representativas do período estudado na disciplina de Literatura Portuguesa II, atualmente em curso. Em sua totalidade são obras impressas em oficinas lisboetas, entre as quais mencionamos a Vida do apostolico padre Antonio Vieyra, de André de Barros, editada em 1746, uma das principais fontes para a interpretação da obra e do ambiente letrado português seiscentista. Destacamos também o belíssimo Historia del Reyno de Portugal, do tão douto Manuel de Faria e Sousa, cuja primeira edição é de 1673, e que apresenta uma impressionante iconografia historiográfica. Do mesmo autor, dispomos de uma edição facsimilada do volume Rimas varias de Luis de Camoens, publicado pela primeira vez em 1685, obra fundamental para o estudo da teorização poética do século XVII. Citamos ainda o Elucidario das palavras, termos e frases, que em Portugal antiguamente se usárão... de Santa Rosa Viterbo, obra valiosa para a correta significação de expressões em textos anteriores ao século XVIII e a segunda edição do Reflexões sobre a vaidade dos homens (1761), de Matias Aires, o taciturno português nascido em São Paulo.
    Ainda não catalogada – e portanto não disponível aos estudiosos – mas presente na Biblioteca do IEL, está a coleção doada pela família do erudito Müller Carioba, composta em sua maior parte de publicações setecentistas de autores gregos e latinos, editadas em imprensas européias. Entre os livros que estão num estado de conservação tal que permite sua exposição pública, achamos por bem destacar o “romance” Etiópica escrito no século III-IV pelo grego Heliodoro, que tanta importância teve para a prosa quinhentista e seiscentista; o Via in Chaldaeam [Caminho ao Caldeu], edição magistral, cada página apresentando em três línguas (caldaico, latim e grego) a tradução de versículos do Velho Testamento; um volume de obras de Luciano, autor grego do século II, que tem a particularidade de apresentar a seguir a cada folha impressa em grego uma folha em branco, para que o possuidor fizesse sua própria tradução ? o que foi feito, em latim... Etc.
    São essas ínfimas preciosidades que aqui se oferecem à sua disposição.

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