Adolfo Casais Monteiro
1908-1972
TÁBUA BIOGRÁFICA
1908 - Nasce no Porto, em 4 de julho.
1928 - Licencia-se em Ciências Históricas e Filosóficas na Faculdade de Letras do Porto.
1929 - Inicia sua obra poética, com o volume Confusão.
1930 - Em Coimbra, freqüenta o Liceu Normal e integra o grupo da revista presença, fundada, dirigida e editada desde 1927 por Branquinho da Fonseca, João Gaspar Simões e José Régio. Foi diretor da revista de 1931 a 1940, ano em que ela deixou de circular.
1933 - Inicia sua carreira de professor no Liceu Rodrigo de Freitas, do Porto, bruscamente interrompida, anos depois, pela sua prisão por envolvimento na organização clandestina de Socorro e Auxílio à República de Espanha, do que resultaria o veto de seu nome para qualquer função pública e a proibição de que assumisse a direção de qualquer publicação.
1941 - De Pés Fincados na Terra.
1943 - Noite Aberta aos Quatro Ventos.
1943 - Manuel Bandeira.
1945 - Europa e Versos.
1946 - Adolescentes, único romance.
1950 - O Romance e Seus Problemas, refundido e ampliado em 1964 com o título de O Romance (Teoria e Crítica).
1954 - Vôo sem Pássaro Dentro. Transfere-se para o Brasil, a fim de participar do Congresso Internacional de Escritores, incluído no Programa das Comemorações do IV Centenário de São Paulo.
1956 - Passa a residir no Rio de Janeiro, onde permanece até 1962.
1958 - Estudos sobre a Poesia de Fernando Pessoa.
1959 - Durante o ano letivo, ensina Literatura Portuguesa na Faculdade de Filosofia da Universidade da Bahia e Literatura Dramática na Escola de Teatro dessa Universidade.
1961 - Clareza e Mistério da Crítica.
1962 - Fixa-se em Araraquara, para reger o Setor de Teoria da Literatura da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. No tempo em que vive no Brasil, exerce profícua atividade como conferencista e como professor.
1968 - Leciona como professor visitante na Universidade de Wisconsin, em Madison, no primeiro semestre do ano letivo (1968/69), e na Universidade Vanderbilt (Nashville, Tennessee), no segundo semestre (1969), onde ministra cursos de pós-graduação.
1969 - Poesias Completas, que inclui o inédito O Estrangeiro Definitivo.
1972 - Falece em São Paulo, em 24 de julho.
Adolfo Casais Monteiro segundo Jorge de Sena
[...]
Discreto e recatado, delicado e áspero, tinha Casais uma arte de não se entregar nunca, de que provavelmente sofria muitíssimo, mas que lhe coarctava, a menos que em raros momentos, uma abertura directa. De uma independência feroz, e dotado de uma tremenda força de carácter, ninguém conseguia, a não ser com um lento trabalho de que, a qualquer momento ao fracasso podia surgir, acomodá-lo a nada ou a coisa alguma. Todavia, os últimos anos haviam-no amaciado muito. Com toda a fidelidade a si mesmo que sempre manteve inalterável, o Casais do Brasil era infinitamente mais doce e mais amável do que havia sido o Casais de Portugal. Em tom de graça, Raquel Moacyr costumava apontar para ele e perguntar-nos, à minha Mulher e a mim, se não achávamos que o Brasil amaciara muito o seu "portuga"...
O que era verdade, ao ponto de dar-lhe certa aceitação das convenções do viver social, que ele sempre repelira, na vida entre boémia e isolada que havia sido a sua.
Tudo isto, não sei sequer porque digo. Talvez para recapturar uma vez mais a personalidade do amigo. Mas ele foi, para além disso, um dos maiores e mais modernos poetas da língua portuguesa neste século, um dos maiores críticos, e até uma sua tentativa novelística conta entre os melhores livros do gênero na época moderna. Foi também um indefectível democrata português, a quem o destino roubou a alegria de ver restaurada a liberdade em Portugal, que deu a outros menos merecedores do que ele. Senhor de uma cultura sempre atenta, leitor e estudioso incansável (era proverbial encontrá-lo em sua casa, nos anos de Araraquara, com livros à sua volta, lendo ao som da música que lhe enchia o silêncio), poucas personalidades de Portugal e do Brasil contemporâneos eram tão sólidos na sua preparação intelectual como ele, e poucos portugueses natos souberam e entenderam tanto de Brasil quanto ele. Homem de duas pátrias, soube, da maneira mais devotada e sensível, ser inteiramente fiel a ambas, para lá de todas as falácias do nacionalismo. Porque ele foi, acima de tudo e dos condicionalismos da vida, um cidadão do mundo em língua portuguesa, que é uma maneira de esse mundo não saber que possui tal cidadão, e de a língua, que o possui, presa aos seus provincialismos, não apreciar a grandeza que por ela se afirma e realiza.
JORGE DE SENA
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