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   A poeta, dramaturga e ficcionista brasileira Hilda Hilst (1930-2004) anuncia O caderno rosa de Lori Lamby na 4a Capa de seu livro de poemas Amavisse (1989), ambos publicados pelo editor Massao Ohno.

   Segura da grandeza de sua obra, inconformada com a pequena quantidade de leitores e com a demanda de certos editores por textos superficiais, Hilda Hilst dedica-se, de 1990 a 1992, a publicar quatro obras consideradas "obscenas" ou "pornográficas", rótulos refutados por vários críticos e pela própria escritora. O caderno rosa de Lori Lamby (1990) é a primeira obra da trilogia em prosa, seguida de Contos d´escárnio . Textos grotescos (1990), Cartas de um sedutor (1991) e dos poemas satíricos das Bufólicas (1992). De acordo com Alcir Pécora, "todos esses livros estão longe da literatura banal e recolhem verdadeiras gemas da matéria baixa, como antes já fizeram em língua portuguesa, autores excelentes como Gregório de Matos, Tomás Pinto Brandão, Bocage, Nicolau Tolentino, Bernardo Guimarães etc."

    Il quaderno rosa de Lori Lamby , publicado em 1992 na Itália, é o primeiro livro de Hilda Hilst traduzido na íntegra. Em 1999, O caderno rosa é adaptado para o teatro como um monólogo: Lori Lamby é interpretada pela atriz Iara Jamra.

   Em 1965, Hilda Hilst muda-se para a fazenda de sua mãe, em Campinas, e inicia a construção da Casa do Sol , onde passou a viver em 1966. Na Casa do Sol, Hilda escreveu oito peças de teatro, os textos em prosa, as crônicas e uma grande e intensa produção de livros de poesia. Grande parte dos manuscritos de Hilda Hilst é conservada no Centro de Documentação Cultural "Alexandre Eulalio" (CEDAE-IEL-UNICAMP). Atualmente, as Obras Reunidas de Hilda Hilst estão sendo publicadas pela Editora Globo.

   Nesta exposição, você é convidado a passear com Lori Lamby pela recepção das cinco obras acima citadas – pela crítica universitária e jornalística, por amigos e leitores. O Caderno Rosa de Hilda Hilst – título emprestado de texto de J.L. Mora Fuentes – apresenta uma seleção do amplo legado da autora de Amavisse: manuscritos, datiloscritos, textos digitados, livros, fotos, desenhos, cartas, recortes de jornais, obras traduzidas, montagens de peças teatrais – e algo mais , que se pode ler nas entrelinhas.

   "Sinto-me livre para fracassar" – escreveu Hilda Hilst. "Fracassar" significa, neste caso, a possibilidade de arriscar outras formas de dizer literário. Supõe liberdade – e também coragem – de excursionar por regiões ainda não devassadas pelo gênio criador do artista, correr o risco do desconhecido. Em outras palavras: fracassar significa transgredir, moto perpétuo de Bataille. Ou, ainda, como a própria autora sugere, propondo o ato de escrever como atividade lúdica: brincar. E quando uma escritora do porte de Hilda Hilst brinca e arrisca, o leitor não deve se furtar ao prazer do jogo. "Aceitemos o convite", afirma Eliane Robert Moraes.

   Aceitemos a ironia e o riso, palavras sublimes e profanas. Agora é a sua vez de lançar os dados e entrar no jogo.

Prof.ª Dr.ª Cristiane Grando

Pesquisadora - IFCH - UNICAMP


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